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Friday, 9 March 2012

A salada russa no sector eléctrico Angolano

Em 2010 publiquei neste blog um artigo sobre o código de cores para condutores usados em instalações eléctricas, em resposta a uma solicitação feita por um visitante (ver artigo em: http://www.angolapowerservices.blogspot.com/2010/10/que-cores-sao-usadas-em-angola-para.html ).

Durante essa abordagem nem sequer questionei-me se de facto as novas centralidades e condomínios obedeciam a um padrão ou norma industrial. Atendendo a existência de instituições e entidades do sector eléctrico em Angola, como o ministério da energia e águas e o instituto regulador do sector eléctrico (IRSE), assumi que de facto tal era o caso. Infelizmente, a foto em anexo representa uma realidade vivida em Angola, onde nenhuma norma é respeitada.

O desrespeito a essas normas resultou na destruição parcial da instalação eléctrica de uma casa num condomínio edificado por uma empresa Brasileira. Não quero com isso generalizar o sucedido e muito menos denegrir o bom trabalho que se tem feito no sector. No entanto, fica no ar a grande questão: Quem regula o sector eléctrico em Angola? Que normas e padrões a seguir? “Quem fiscaliza as empresas de fiscalização que não fiscalizam"?

Não podemos continuar a assistir e aceitar que qualquer empresa instala-se em Angola, usando padrões e normas industriais adoptadas pelos Brasileiros, Chineses, Sul-Africanos, Americanos, Ingleses, Russos, etc, criando uma salada russa num sector que já deixa muito a desejar. O pior são aqueles que notando a "inexistência" de uma entidade reguladora, decidem inventar os seus próprios “padrões industriais” pondo em risco a vida dos outros profissionais ou criando situações susceptíveis de causar incidentes e danos materiais as instalações eléctricas. Frequentemente ouve-se dizer que uma empresa ou armazém foi destruído por um incêndio provocado por um curto-circuito.


Contudo, ninguém questiona o que terá provocado tal curto-circuito? Esses incêndios têm provocado grandes danos materiais e as vezes humanos. Penso que já é tempo de se criar a carteira do electricista e começar a se responsabilizar as empresas e indivíduos pelos danos causados a sociedade.

 A foto publicada em anexo, demonstra a inexistência ou falta de preocupação por parte das empresas construtoras em seguir as normas estabelecidas pelo governo Angolano. É inaceitável, que uma instalação monofásica sem protecção à terra ou aterramento seja feita com condutores de cor preta, azul, castanha, verde e amarelo. O mínimo para esse caso seria a utilização de condutores de cor castanho para a fase e azul para o neutro, visto que nem sequer protecção a terra foi considerada. Para ligações a terra usa-se sempre condutor de cor verde e amarelo (Assumindo a norma IEC 60446 adoptada pela união europeia). Precisamos urgentemente de estabelecer uma norma reguladora do sector eléctrico antes que seja tarde. Angola importa quase tudo de que necessita para o sector eléctrico; desde cabos, tomadas, disjuntores, motores, geradores, turbinas, etc...

Contudo, urge a necessidade de se regulamentar essas importações, incluindo aquelas feitas por instituições públicas. Não podemos continuar a assistir e aceitar que equipamentos inadequados ao nosso sistema eléctrico continuem a entrar no Pais sem o mínimo de fiscalização. Normalmente, vendem-se em Angola aparelhos de ar condicionado com instruções em chinês e muito dos quais são instalados em hotéis sem o mínimo cuidado em providenciarem-se comandos que não sejam com instruções em chinês. Isso visto assim parece uma coisa insignificante. Contudo, existem também equipamentos hospitalares instalados de igual forma. Vendem-se equipamentos meramente concebidos para o mercado Sul-Africano, forçando os compradores a efectuarem modificações para conectarem os mesmos a rede doméstica Angolana. Essas modificações tem resultado em incidentes que poderiam ser evitados se a entrada de tais equipamentos fosse banida. Geradores concebidos para outros mercados, cuja frequência nominal é de 60Hz, também são vendidos em Angola; Extensões eléctricas concebidas para os mercados americanos e ingleses também facilmente se encontram a venda. Hoje em dia, facilmente vê-se o famoso chuveiro eléctrico brasileiro a venda. Quem autorizou a comercialização desse produto no mercado Angolano? Quem fiscaliza ou regulamenta os procedimentos para a sua instalação? Enfim, n+1 perguntas poderiam ser feitas a esse respeito.

Se olharmos para o sector industrial Angolano, incluindo o mundo do petróleo e gás, veremos então a maior disparidade. Aqui os Franceses, Ingleses e Americanos utilizam normas e padrões completamente diferentes. As normas adoptadas por Angola as vezes nem são tidas nem achadas. contudo, essa atitude não ajuda o mercado angolano a desenvolver-se,visto que uma boa parte dos equipamentos são directamente importados pelas multinacionais devido a inexistencia de fornecedores no mercado angolano.

O Ministério da energia no seu decreto executivo 135/09 de 30 de Novembro, Artigo 6º, define a secção de electrificação rural e local como sendo a entidade vocacionada para a regulamentação e normalização da electrificação no território nacional. Contudo, a grande questão prevalece: Quais as normas existentes e onde podem ser adquiridas ou consultadas? (Ver o referido decreto em http://www.minea.gov.ao/VerLegislacao.aspx?id=428 ).

 Penso que ainda vamos a tempo de digerir essa salada russa e confeccionar um bom funge para o bem dos Angolanos.

2 comments:

  1. Concordo muito contigo Emméry, tem que se fazer algo, Angola nao pode continuar assim. Angola é um grande pais, agindo desta forma, nos estamos à parecer como se fossemos um pais de Bananas e de atrasados. eu acho que o ministerio da energia e agua ainda nao realizou a gravidade desta situaçao. É importante termos àgua e energia em abundancia nas nossas casas, nossos bairros, nossas comunas, enpresas etc, mais é muito ainda importante que esta àgua ou energia electrica seja de boa qualidade, assim como as instalaçoes. Muitos de nos Angolanos e estrangeiros que ja deram conta da brexa que existe em Angola, so estao preocupados em ganhar dihneiro, metendo em risco a vida dos Angolanos. E qual é à posiçao da ordem dos engenheiros a cerca desta situaçao da nao existencia de norma defenida de instalaçao electrica em Angola, assim como a liberdade que os importadores e instaladores de instalaçoes e equipamentos electricos tenhem em Angola?

    Kimika Marco

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  2. Caro Kimika,

    Obrigado pelo seu comentário e por ter feito uma pergunta muito interessante. Em Angola temos instituições como a ordem dos engenheiros de Angola que podiam ajudar nesse sentido.

    Infelizmente, os membros da ordem dos engenheiros também são funcionários de outras instituições e acabam dedicando pouco tempo as questões relevantes a ordem. Se visitares a ordem dos engenheiros de Angola, vais constatar o que uma das actividades de relevo é a emissão do cartão de membro da ordem e o reconhecimento dos membros para o exercício da profissão em Angola. Pouco ou nada se fala de trabalhos de pesquisas, organização, regulamentação ou normalização do sector eléctrico. Aconselho a visitar essa instituição para não ouvir somente os outros comentar. Pelo menos foi o que fiz e fui simpaticamente bem atendido... :)

    Já ouviu falar em fóruns, conferências e documentos com impacto no sector elaborados pela ordem?

    Vamos reflectir sobre isso, o futuro depende dessa nova geração de jovens engenheiros que surgem todos os anos no País. Precisamos organizar a casa. Precisamos ter pessoas reconhecidas e remuneradas para exercerem esse papel tão importante para a sociedade.

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Luanda, Viana, Angola
Consultoria e Prestação Serviços powered by Emméry Macedo - Engenheiro Eletrotécnico, BTECH, BEST CUM LAUDE, pela Durban University of Technology (DUT), Galardoado pelo Institute of Professional Engineering Technologists (IPET), Pos-Graduado em Gestão de Projectos pela Universidade de Liverpool; Bacharel em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto de Angola, Professor de Matemática e Física pelo IMNE- Garcia Neto, Professor de Electrόnica de Potência da Universidade Metodista, membro do IET - Institution of Engineering and Technology MIET nº 91651226, membro da Ordem dos Engenheiros de Angola OEA nº 2924, com certificação em ETAP, SKM, HV Switching, SAEP, etc...

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